El Salvador, um país que já foi considerado um dos mais perigosos do mundo, vem apresentando uma queda impressionante nas taxas de criminalidade desde 2019. O que está por trás dessa transformação? A resposta tem nome e sobrenome: Nayib Bukele, o polêmico presidente que implementou uma abordagem radical de combate ao crime que dividiu opiniões globalmente, mas transformou a realidade do país centro-americano.
A realidade sombria que El Salvador enfrentava
Antes de entender a transformação, é importante contextualizar o cenário que o país enfrentava. Durante décadas, El Salvador viveu sob o domínio de gangues violentas, principalmente a Mara Salvatrucha (MS-13) e o Barrio 18, que controlavam territórios, extorquiam cidadãos e eram responsáveis por milhares de homicídios anualmente.
Em 2015, El Salvador registrou uma taxa de homicídios de 103 por 100 mil habitantes, a mais alta do mundo para um país que não estava em guerra. Os salvadorenhos viviam em constante medo, e a economia do país sofria com a insegurança generalizada.
O impacto das gangues na sociedade salvadorenha
A influência das gangues se estendia para além da violência direta:
- Extorsão generalizada de pequenos negócios
- Controle territorial de bairros inteiros
- Recrutamento forçado de jovens
- Deslocamento interno de famílias fugindo da violência
- Aumento da emigração para os Estados Unidos
A chegada de Bukele ao poder e o “Plano Control Territorial”
Nayib Bukele assumiu a presidência em junho de 2019, aos 37 anos, como um outsider político prometendo uma abordagem diferente para o problema crônico da violência. Logo após sua posse, ele lançou o “Plano Control Territorial”, uma estratégia abrangente de segurança pública com sete fases:
- Ocupação coordenada de áreas de alta criminalidade pelas forças de segurança
- Corte de comunicações entre líderes de gangues nas prisões
- Modernização das forças de segurança
- Melhoria das condições nas prisões
- Construção de infraestrutura em áreas recuperadas
- Recuperação de espaços públicos
- Reinserção social de ex-membros de gangues
A implementação dessas medidas começou a mostrar resultados quase imediatos, com uma queda significativa na taxa de homicídios já no primeiro ano de mandato.
O estado de exceção: a medida controversa que mudou o país
A verdadeira virada na segurança pública de El Salvador veio em março de 2022, quando Bukele declarou um “estado de exceção” após um fim de semana particularmente violento com 87 homicídios. Esta medida, que inicialmente deveria durar 30 dias, foi prorrogada múltiplas vezes e segue em vigor:
- Suspensão de certos direitos constitucionais
- Detenções sem mandado judicial
- Período prolongado de prisão preventiva
- Restrições à liberdade de reunião
- Fortes operações policiais e militares em áreas controladas por gangues
Resultados numéricos impressionantes
Os números da redução de criminalidade são inegavelmente impactantes:
- Homicídios: Queda de mais de 95% entre 2015 e 2023
- Extorsões: Redução de 80% desde 2019
- Desaparecimentos forçados: Diminuição de 70%
- Roubos e assaltos: Redução de mais de 60%
Em 2023, El Salvador registrou uma taxa de homicídios de aproximadamente 2,4 por 100 mil habitantes, menor que a de muitos países desenvolvidos.
Você pode imagina
r o que significa para um país passar de 103 para 2,4 homicídios por 100 mil habitantes em apenas oito anos? É uma transformação que mudou completamente o cotidiano dos salvadorenhos.
As duas face
s de uma mesma moeda: críticas e elogios
As medidas implementadas por Bukele geraram tanto aplausos quanto preocupações:
Pontos positivos destacados pelos apoiadores:
- Recuperação de territórios antes controlados por gangues
- Retorno da normalidade à vida cotidiana
- Reabertura de negócios que haviam fechado por medo de extorsão
- Retorno de famílias às suas comunidades de origem
- Aumento do turismo e investimentos estrangeiros
Críticas de organizações de direitos humanos:
- Detenções a
rbitrárias e em massa - Denúncias de torturas e maus-tratos nas prisões
- Mortes suspeitas sob custódia do Estado
- Falta de devido processo legal
- Abusos contra inocentes e familiares de supostos membros de gangues
A mega prisão: símbolo da política de segurança de Bukele
Um dos símbolos mais visíveis da abordagem de Bukele é o Centro de Confinamento del Terrorismo (CECOT), uma mega prisão inaugurada em janeiro de 2023 com capacidade para 40.000 detentos, tornando-
a a maior da América Latina.
A prisão foi projetada com tecnologia de ponta e medidas rigorosas:
- Bloqueio total de sinal de celular
- Vigilância 24/7 com mais de 600 câmeras
- Guardas altamente treinados
- Isolamento completo dos líderes de gangues
- Restrição severa de visitas e comunicações externas
As imagens da transferência de prisioneiros para esta instalação, com detentos seminus e agachados, causaram controvérsia internacional, mas foram amplamente celebradas pela população salvadorenha, exausta após décadas de violência.
O impacto na vida cotidiana dos salvadorenhos
Para muitos cidadãos comuns, a mudança na segurança transformou suas vidas:
- Crianças podem brincar nas ruas novamente
- Pequenos negócios operam sem pagar “renta” (extorsão)
- O transporte público funciona em áreas antes consideradas perigosas demais
- Famílias podem visitar parques e praças antes dominados por gangues
- A vida noturna renasceu em muitas comunidades
“Antes eu tinha que pagar $50 por semana só para manter minha loja aberta. Agora não pago nada e posso trabalhar em paz”, conta María, proprietária de uma pequena mercearia em Soyapango, uma das áreas anteriormente mais perigosas.
O que podemos aprender com o caso de El Salvador?
A experiência de El Salvador levanta questões importantes sobre segurança pública e governança:
- Até que ponto a segurança justifica restrições de direitos?
- É possível replicar esse modelo em outros países com altos índices de violência?
- Quais serão os efeitos a longo prazo dessas políticas?
- Como equilibrar firmeza contra o crime organizado com o respeito aos direitos humanos?
Além da repressão: programas sociais complementares
Embora menos divul
gados que as medidas repressivas, o governo Bukele também implementou programas sociais em áreas recuperadas:
- Renovação de escolas e espaços públicos
- Programas de capacitação profissional para jovens
- Incentivos para pequenos negócios
- Melhorias na infraestrutura básica em comunidades vulneráveis
Estes elementos são fundamentais para entender a estratégia completa implementada em El Salvador, que vai além da simples repressão policial.
O futuro da segurança em El Salvador
O grande desafio agora é a sustentabilidade desta transformação. Especialistas apontam que será necessário:
- Transição gradual do estado de exceção para um estado de direito pleno
- Fortalecimento do sistema judiciário
- Programas de prevenção de violência focados em jovens
- Criação de oportunidades econômicas em áreas vulneráveis
- Reforma do sistema prisional para efetiva reabilitação
Voc
ê acredita que é possível manter estes ganhos em segurança enquanto se restabelecem as garantias constitucionais plenas? Esta é a pergunta que El Salvador terá que responder nos próximos anos.
Conclusão: Uma transformação com lições complexas
A redução drástica da criminalidade em El Salvador representa uma das transformações mais rápidas e impressionantes na segurança pública já registradas no mundo moderno. No entanto, o preço pago em termos de direitos civis levanta questões éticas e práticas sobre como sociedades democráticas devem lidar com o crime organizado.
O “modelo Bukele” continuará sendo estudado, criticado e elogiado nos próximos anos, oferecendo lições importantes sobre os limites e possibilidades das políticas de segurança pública em contextos de violência extrema.
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